Uma linha
‘afundada’ que sai da região do peito e vai até, mais ou menos, o umbigo, como
se separasse o abdome em dois. Pode soar estranha essa condição fisiológica,
chamada de diástase, mas ela é mais comum em mulheres em período de pós-parto
do que se pensa.
"A diástase
é o afastamento dos músculos do abdome. O organismo feminino prepara o corpo
para a gestação e o aumento da parede abdominal nesse período faz com que
ocorra esse processo de afastamento", explica o ginecologista e obstetra
Sérgio Hecker Luz, membro da Federação Brasileira das Associações de
Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).
Ele esclarece
ainda que a condição não tem nada a ver com o tipo de procedimento realizado:
"Esse processo acontece na gestação e não no momento do parto e, portanto,
não há importância se o nascimento ocorre por via cesárea ou normal. A única
diferença é que, no caso da cesariana, a cavidade fica acima do umbigo,
enquanto no parto vaginal perto do púbis".
A diástase está
muito relacionada aos hábitos da gestante, até mesmo antes da gravidez. O
ginecologista e obstetra Carlos Alberto Politano, diretor da Associação de
Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo (Sogesp) explica: “Dependendo
da constituição da pessoa ou da atividade muscular que ela teve durante a
gestação, essas linhas podem ficar afastadas e formar um espaço que vai de um a
três centímetros. Quando a pessoa contrai o abdome aparece um feixe muscular de
cada lado”.
Por isso, é
importante ter atenção à postura ao andar, sentar e ao praticar atividades
físicas. “Se a pessoa tem uma musculatura abdominal que foi exercitada no
período anterior, essa musculatura tem uma capacidade de extensão maior que
aquela musculatura que não era exercitada”, esclarece Politano.
Durante a
gestação, a má postura interfere diretamente nos feixes musculares devido à
mudança na curvatura da coluna, que é resultante do crescimento do abdome.
"Uma gestante que era sedentária antes da gravidez deve inserir uma atividade
física no seu dia a dia, ativar a musculatura paravertebral e abdominal e
cuidar da postura. Hoje, muitas grávidas trabalham sentadas mexendo no
computador e passam horas em posições erradas. No pré-natal, costumamos dizer
que há dois pilares para uma gravidez saudável: as atividades físicas e a
alimentação", completa.
Na lista de
exercícios indicados para as futuras mamães estão: caminhada, hidroginástica,
pilates e, até mesmo, academia - caso ela já frequente e seja constantemente
assistida por um profissional especializado em treinamento para gestantes.
Assim, o mais importante é praticar atividades que se encaixem na rotina da
gestante.
Já no quesito
alimentação, a recomendação do médico é comer a cada três horas e manter uma
dieta equilibrada. "Há vinte anos, a gestante vinha ao pré-natal e sua
única preocupação era a gestação, não pensava em comer de forma saudável e se
hidratar. Tinha-se a ideia de comer por dois. Hoje é diferente. Quando falamos
em comer de três em três horas e em menores porções, muitas falam que vão
engordar. Porém, o que engorda é comer só no café, almoço e jantar. O que se
precisa ter é uma alimentação equilibrada, e é claro que isso vai influenciar
na musculatura, pois é necessário ter uma ingestão proteica balanceada".
A diástase
começa a se formar durante a gestação, mas, muitas vezes, é depois que ela se
evidencia. O diagnóstico é realizado por meio de um exame físico em que o
médico solicita para que a paciente, deitada, se levante sem o auxílio das
mãos. Quando ela está com diástase, os médicos observam uma elevação na região
central do abdome.
Apesar de não
ser possível prevenir seu aparecimento, é possível tratá-la sem intervenções
cirúrgicas, como abdominoplastias, que segundo Dr. Luz, podem atrapalhar gestações
futuras. Por isso, é preciso dar tempo ao tempo e investir nos exercícios
físicos.
"A maioria
das diástases fica imperceptível depois de algum tempo e com o auxílio de
exercícios para fortalecer o abdome, como musculação e pilates. Em média, em
torno de um ano, as mães já não observam esse afastamento, no entanto, cada
organismo reage de uma maneira", completa.
Segundo
Politano, não vale investir numa cinta durante a gravidez, mas depois do parto
ela é uma boa opção. "Na gestação, usar a cinta é tapar o sol com a
peneira, pois o mais importante é manter uma postura correta para evitar dores.
Depois da gravidez, no entanto, é fundamental porque o abdome está flácido e a
cinta ajuda a minimizar isso na musculatura".
Caso você
perceba que há uma depressão de mais de 1,5 centímetro entre os músculos do
abdome, o ideal é buscar ajuda médica para uma cirurgia plástica. Se houver uma
diástase pequena - de 1 cm a 1,5 cm - só com os exercícios, o estiramento das
fibras musculares acaba ficando imperceptível. "Mas a atividade deve ser
feita com o acompanhamento de um fisioterapeuta, porque ele vai saber trabalhar
a musculatura reto abdominal", pontua o ginecologista.